Crítica de Fernando Melo: Rocco, mesa incontornável na Baixa de Lisboa

O carpaccio de robalo foi um dos pratos provados pelo crítico Fernando Melo. (Fotografia de Nuno Correia/DR)
Abriu há pouco e parece que sempre ali esteve, tal a falta que fazia. Além de candidato natural a melhor restaurante italiano da cidade, o Rocco congrega tudo o que sempre quisemos numa casa destas: conforto, sabor e surpresa

Acena restaurativa lisboeta está ao rubro com oferta de grande valor no tocante ao sabor português e suas declinações mais modernas. Pontificam concomitantemente os criadores apostados em inovar e surpreender nos seus domínios de especialização, levando a uma concentração de estrelas Michelin no notável Chiado. Hoje é bairro de que já nos aproximamos para uma refeição com o sentimento misto de festa e devoção.

Foi justamente na Rua Capelo que se instalou The Ivens Hotel, com um número de quartos que ronda a centena, abrindo para a lateral da Rua Ivens o espaço epicurista que tardava em aparecer na capital: o restaurante Rocco. Serviço ininterrupto, cozinha de forte matriz italiana e três espaços ao dispor do cliente – Crudo, Gastrobar e Restaurante -, adaptados ao tempo disponível de cada um para o seu momento.

(Fotografia de Francisco Nogueira/GI)

Estou com todo o tempo do mundo e instalo-me numa mesa com vista para a vibrante cozinha governada pelo chef Ricardo Bolas. Começam depressa as hostilidades, com três ostras de Setúbal (12 euros), tão deliciosas quanto oportunas. O genial sommelier Gonçalo Patraquim foi exímio em todos os momentos de maridagem. Gere uma fabulosa garrafeira e é dono de técnica e sageza para governar o dobro, com particular brio. Genial a escolha do Cerca dos Frades, branco do Pico que harmonizou incrivelmente bem com o carpaccio de robalo com laranja sanguínea (24 euros), a proteína a sair glorificada na contenda. Foi tal a sensação de plenitude que quase achei que não iria vir mais nada. Veio um magistral bife tártaro trufado (26 euros), de antologia; confesso que é uma das minhas fraquezas quando bem feito e este estava muito bom. Exemplarmente casado com Chateau d’Esclans rosé, da Provence, elegância a toda a prova e acidez competente a criar ligação feliz. O maravilhoso prato de linguine de lavagante (38 euros) foi harmonizado com um vinho de evocação salina da Sicília, seguindo-se um prato por mim solicitado, melanzane (beringela) alla parmigiana (22 euros), que me colocou no céu a conferenciar com os deuses. Ainda veio um carré de borrego (40 euros) com gnocchi e legumes servido com barolo competente.

Coube ao chef de pastelaria Clayton Ferreira fechar com chave de ouro a magnífica refeição, com um “tiramisú clássico” (14 euros) feito ali à minha frente. Incrível equilíbrio de sabores e texturas, representou para mim a reinvenção de um clássico. O mestre Patraquim serviu com esta jóia um brilhante Madeira Malvasia 10 anos. Coreografia de sala irrepreensível, perfeição nos detalhes e muita vontade de voltar. O velho Chiado a fazer-se novo e cosmopolita, quem diria.


Refeição ideal

Ostras do Sado (3 un, 12 euros)
Tártaro de novilho (26 euros)
Melanzane alla parmigiana (22 euros)
Robalo com risotto alle vongole (36 euros)
Bife Rossini (39 euros)
Tiramisu clássico (14 euros)


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Morada
Rua Ivens, 14 (Chiado), Lisboa
Telefone
210543168
Horário
Das 12h30 às 16h e das 19h30 às 01h. Não encerra.
Custo
(€€) Preço médio: 50 euros.

Website

GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




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