Mercearias que dão a volta ao mundo, em Lisboa e no Porto

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)
Elas dão força aos laços para quem deixou vida na Suécia, Brasil, México, Coreia do Sul. Para os outros, são caminhos escancarados à curiosidade. Bem-vindos às mercearias do mundo, na Grande Lisboa e no Grande Porto.

Woori Market: nesta loja no Porto conta-se uma história coreana em vários sabores

Snacks doces e salgados, kimchi, bebidas alcoólicas que atraem seguidores dos “K-dramas”… No Woori Market, os produtos alimentares coreanos estão em maioria, mas há espaço, ainda, para alguma cosmética. CF

Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

Areum Shin e Seongbo Cho, oriundos de Seul, na Coreia do Sul, mudaram-se para Portugal há meia dúzia de anos, cansados da competitividade, desejosos de mais tempo livre, atraídos pelo clima e pelas pessoas. Seguiram a recomendação do irmão de Seongbo, que já vivia em Lisboa – onde, aliás, tem uma loja de produtos coreanos com o mesmo nome da que abriram no Porto: Woori Market. O casal começou por investir numa casa de hóspedes e, há um ano, saudoso da comida coreana, abriu também aquele espaço com sabores das suas origens, na Rua de Fernandes Tomás.

Areum Shin e Seongbo Cho, do Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

 

Na fachada do Woori Market portuense lê-se “Korea story”, porque é intenção da dupla partilhar um pouco do seu país. A oferta inclui sobretudo produtos alimentares, mas também alguns cosméticos, com piscares de olho à chamada K-culture, das séries à música. Quando a loja abriu, havia artigos alusivos à K-pop, lembra Areum. E ainda hoje vê ali muitos jovens, na casa dos 20 anos, atrás de umas bebidas alcoólicas com diferentes sabores, de nome “soju”, que surgem nos K-dramas emitidos pela Netflix. Outra curiosidade é haver snacks feitos com algas, algo que “não é comum aqui”, a competir com uma variedade de doces. Estes últimos incluem, por exemplo, “choco pies” (bolos revestidos de chocolate e recheados com marshmallow) e diversas versões de “pepero” (biscoitos cobertos de chocolate, em forma de palitos).

Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

 

Inicialmente, Areum pensou que ia ter poucos clientes, por não haver assim tantos coreanos a viver no Porto; mas os portugueses (e outros europeus radicados cá) também responderam à chamada. Por estes dias, os coreanos correspondem a metade da clientela, entre residentes e viajantes, conta ela, enquanto vai apresentando os produtos, acompanhados por etiquetas informativas em português. Há várias opções de “ramyun”, uma espécie de noodles, e também de kimchi, um alimento fermentado, feito com vegetais como rabanetes, repolhos e outros, que muitos coreanos fazem em casa. “É bom para a saúde”, diz Areum.

Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

Woori Market Porto (Fotografia de Artur Machado/GI)

 

Das prateleiras espreitam desde “tteokbokki” (bolinhos de arroz) até massas de arroz, pastas de soja, chás, cafés e outros alimentos coreanos. Na secção dos congelados, há gyozas, umas coreanas, outras japonesas, para agrado dos clientes nipónicos que ali buscam esses e outros produtos do Japão, como molhos. A pensar nos coreanos que estejam de visita e queiram levar uma lembrança de Portugal, encontra-se também uma seleção de produtos da marca Couto, entre eles a famosa pasta de dentes.

Woori Market – Porto. Rua de Fernandes Tomás, 145, Porto. Web: instagram.com/korea.woori. Das 10h30 às 20 horas, de segunda a sábado.

 


Matar saudades do Brasil na Mercearia Donna Terra, em Gaia

Aqui vende-se tapiocas, farofas, pimentas, doces e outros artigos vindos do Brasil, incluindo utensílios de cozinha, como os cuscuzeiros. Em breve, chegam salgados prontos a comer. CF

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

Sandra Ruotolo, que teve uma pastelaria e um restaurante no Brasil, não vê qualquer problema em mudar de rota, para usar uma expressão sua. Assim fez, quando deixou São Paulo e veio para Portugal. O objetivo era montar uma loja de salgados brasileiros de fabrico próprio, numa zona turística do Porto, mas acabou por abrir uma mercearia de produtos brasileiros, com o filho, nem há um ano, em Vila Nova de Gaia – cidade escolhida também para morar. “Em São Paulo é tudo muito confuso, há muito trânsito, e a gente veio atrás de qualidade de vida”, conta, na sua Mercearia Donna Terra.

Sandra Ruotolo da Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

 

Os produtos vêm do Brasil, exceto os derivados de carne e leite, como enchidos e queijos, que são fabricados em Portugal, por empresas de cidadãos brasileiros a viver cá, explica Sandra. A oferta abrange ainda tapiocas, farofas, pimentas, goiabadas, sumos, chás, cafés, água de coco, doce de leite, bolo de rolo (típico de Pernambuco) e mais. Nem faltam utensílios de cozinha, como cuscuzeiros, filtros de água em barro ou instrumentos para preparar chimarrão, bebida feita com erva-mate, “típica do sul do Brasil e da região do Pantanal”. Uma novidade: a partir do mês que vem, a Donna Terra vai passar a servir esfirras, empadas, croquetes e outros salgados prontos a comer.

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

 

“Os clientes são, na maioria, brasileiros, mas hoje tenho um público português significativo”, sublinha a responsável. Nota que os primeiros procuram muito o flocão de milho, “para fazer o cuscuz nordestino”, a farofa de mandioca, o requeijão do tipo brasileiro, o pão de queijo, chocolates e outros doces – como a cocada, que junta coco e leite condensado, ou a paçoca, feita com amendoim triturado, e da qual também os portugueses “gostam muito”. Aliás, estes últimos são bastante atraídos pelas guloseimas exibidas à entrada da loja, onde se lê: “Um sonho custa caro, mas desistir custa um sonho!”

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

Mercearia Donna Terra (Fotografia de Artur Machado/GI)

 

Mercearia Donna Terra. Rua António Correia de Carvalho, 180, Vila Nova de Gaia. Tel.: 927 849 768. Web: instagram.com/merceariadonnaterra. Das 10h às 12h30 e das 13h30 às 19h30, de segunda a sexta; até às 16h ao sábado.

 


Esta mercearia lisboeta dá um salto ao México

Esta Casa Mexicana em São Bento, Lisboa, convida a participar numa aula de cozinha com os produtos mais típicos, entre os quais se contam o milho branco, as malaguetas e os molhos. A loja online faz entregas em qualquer ponto de Portugal continental. AR

A mercearia Casa Mexicana fica em São Bento, em Lisboa. (Fotografia de Paulo Alexandrino/GI)

Elemento basilar da culinária mexicana, o milho branco é utilizado para confecionar chilaquiles, tacos, enchiladas e um sem número de outros pratos caraterísticos do país. “Sem milho, estas comidas não existiriam”, comenta Jonathan Coronel, sócio-gerente da Casa Mexicana, fundada por Pauline Gallardo. Ambos são mexicanos e têm neste espaço uma extensão da oferta da loja online, criada em 2021 por Pauline como forma de “matar as saudades de casa”, numa altura em que a pandemia impossibilitava as viagens que fazia regularmente até ao país-natal.

Jonathan pega num saco de farinha de milho branco e explica que só a farinha “nixtamalizada” é a adequada para fazer a massa maleável das tortillas, por exemplo, com diferentes recheios. Além da farinha de milho, as próprias tortillas já feitas, ideais para formar os tacos mexicanos, e as salsas (molhos) são os produtos mais comprados na mercearia, seja por restaurantes ou chefs, seja pelo público em geral. Foi, aliás, graças ao sucesso da banca temporária da marca no mercado de São Bento que Pauline decidiu alugar este espaço, montado pelos dois sócios.

Jonathan Coronel é um dos responsáveis pela loja. (Fotografia de Paulo Alexandrino/GI)

Um tanque de lavar roupa descartado é o suporte de garrafas de refrigerante, enquanto a frase “Viva México!” dá ritmo à parede central da loja, marcada ainda pelas cores vivas da bandeira. Outro dos produtos em destaque nas prateleiras são as malaguetas que, segundo Jonathan, só se vendem aqui. São a base de muitos molhos e há que saber usá-las. “As grandes não picam, ao contrário das pequenas; há umas que dão cor e outras que dão sabor” aos pratos. Exóticas são também os nopal, folhas de catos que muitas vezes são como “o bife dos vegetarianos”.

Nas prateleiras da mercearia Casa Mexicana cabem ainda totopos para molhar no guacamole, cervejas Corona, pipocas e chupa-chupas com chile (picante), chocolates e outros doces para crianças. À parte encontram-se algumas referências de tequila (boa para misturar com outras bebidas) e mezcal (mais suave e fumado). Há ainda artesanato mexicano como pequenas canecas para beber, bijuterias e caveiras em cerâmica pintadas à mão pela irmã de Jonathan.

Casa Mexicana. Rua da Quintinha, 72B (São Bento). Tel.: 223209458. Web: casamexicana.shop. Das 11h às 19h. Sábado, das 11h às 17h. Encerra domingo.

 


Na Parede, os sabores escandinavos provam-se na mercearia Maravilhas Nórdicas

Com avós e pais portugueses, a sueca Gabriela Braz encurta as saudades e as memórias de Malmo com a Maravilhas Nórdicas, mercearia que abriu na Parede. Além de produtos da Suécia, há sabores vindos da Noruega, Dinamarca e Finlândia. NC

Maravilhas Nórdicas (Fotografia de Rita Chantre/GI)

Nasceu em Malmo, no sudoeste da Suécia, consequência da emigração dos avós e dos pais portugueses – estes últimos ainda crianças, na década de 1960 – para o país dos Abba, de Alfred Noble e de Ingrid Bergman. Aos 18 anos, Gabriela Braz mudou-se para Portugal, deixando a empresa de limpezas da família na Suécia, onde ainda tem dois irmãos a morar. “O sol foi uma grande razão. Lá faz muito frio”, diz, entre risos.

Quando sente necessidade, vai até ao país natal – como a própria diz, “hoje tenho o melhor dos dois mundos” – mas também ajuda a matar saudades de casa com a mercearia Maravilhas Nórdicas, que abriu há dois anos na Parede, depois de ter tido uma banca dentro do Mercado de Algés, durante uns meses, a servir como “teste” para esta loja física. “Correu muito bem, mas chegou a uma altura em que precisava de ter mais espaço e mais produtos”, conta a empresária de 34 anos, proprietária da única mercearia exclusivamente nórdica da Grande Lisboa.

 

A maioria do que aqui se vende vem da Suécia, mas também há produtos da Noruega, Finlândia e Dinamarca. “A minha vontade foi a de abrir um espaço que não existia no mercado. São produtos bons, que os nórdicos conhecem bem”, afirma Gabriela, acrescentando que existe uma grande comunidade de suecos nesta zona da linha de Cascais. Mas não só: “Os portugueses já vão conhecendo os nossos produtos também, outros chegam aqui por curiosidade”.

Pelas prateleiras há queijos de diferentes curas; manteigas com natas; bebidas energéticas sem açúcares; gin enlatado com vários sabores (arando, laranja ou toranja); arenque envinagrado com cebola, mostarda, natas azedas ou ovas, um peixe “muito popular” entre os suecos; combinados de especiarias; picles; cereais; chás; tostas; chocolates; gomas; batatas fritas com endro, cebolinho, trufa ou natas azedas; compotas e marmeladas; e uma vasta seleção de congelados, onde cabem as campeãs de vendas, as almôndegas, mas também quiches, bacalhau fresco, hambúrgueres e salsichas (incluindo versões veganas), pães variados ou carne de rena. No canto dedicado à garrafeira, podem comprar-se destilados, vinho e licores. Noutro recanto da mercearia, dá-se largas à cosmética e bem-estar.

Maravilhas Nórdicas (Fotografia de Rita Chantre/GI)

Maravilhas Nórdicas (Fotografia de Rita Chantre/GI)

Maravilhas Nórdicas (Fotografia de Rita Chantre/GI)

 

Junto à entrada, também há espaço para enaltecer a cultura, fomentando-se a leitura com uma lista de livros, a maioria em sueco: a ideia é alguém levar um livro para ler em casa e devolvê-lo no final. Também junto à porta da mercearia – que, de resto, também exporta para o restante país, consoante encomenda pelas redes sociais – está um recipiente onde os visitantes podem colocar sugestões de produtos nórdicos que querem passar a ver nesta loja.

Maravilhas Nórdicas. Praceta Fernando Pessoa, 19B, Parede. Tel.: 211336460. Web: instagram.com/maravilhasnordicas. Das 10h às 14h e das 15h às 19h. Encerra domingo e segunda.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend